Livro: O amor segundo Buenos
Aires
Autor: Fernando Scheller
Editora: Intrínseca
Páginas: 288
Gênero: Romance
Sinopse:"Buenos Aires, com suas largas
avenidas, cafés em estilo europeu e bairros charmosamente decadentes, é cenário
e ao mesmo tempo personagem das histórias de amor presentes neste romance
arrebatador.
É por amor que Hugo deixa o Brasil rumo à capital argentina.
Embora o relacionamento com Leonor não sobreviva, seu fascínio pela cidade
resiste à dor da separação e à descoberta de que sofre de uma grave doença.
Hugo cria laços com o arquiteto Eduardo e com a comissária de bordo Carolina,
que evidenciam o poder regenerador das amizades verdadeiras. Ele se reaproxima
de seu pai, Pedro, que troca a rotina de um casamento desgastado por uma vida
em que é possível encontrar profundos afetos.
Cada personagem tem a oportunidade de contar a sua versão dos
fatos, numa trama absolutamente democrática. Impossível não se encantar com a
presença de espírito e o senso de humor de Carolina, a lealdade de Eduardo, a
sensatez e a determinação de Daniel, o jeito excêntrico de Charlotte. Em comum,
esses personagens adoráveis têm uma enorme capacidade de amar.”
Uma
simples frase poderia resumir a resenha: esse livro é sobre o amor, em todas as
suas formas.
Estamos
diante da história de Hugo, que segue Leonor, sua namorada, a qual vai morar em
Buenos Aires em busca de uma aproximação com o pai. Digo “segue”, pois, logo no
início do livro, podemos notar que o amor de Hugo não é correspondido da mesma
forma. Leonor é uma personagem um tanto egocêntrica, com uma necessidade de
atenção e carinho derivada da ausência do pai. Em virtude disso, o
relacionamento com Hugo funciona para ela – isso, ao meu ver – como uma espécie
de adoração, que alimenta o seu ego rejeitado.
Após
o abandono da relação, por parte de Hugo, a história começa a se desenrolar. Tudo
isso já foi adiantado pela sinopse, que diz exatamente o necessário para
instigar o leitor, sem extrapolar na revelação dos acontecimentos posteriores.
Então, também não me aterei à sucessão de fatos em si, mas na capacidade que o
livro tem de captar o coração de leitores amantes de todos os gêneros.
O
ponto que mais me chamou a atenção foi a forma com que o autor estruturou o
livro. Cada capítulo é o relato de um personagem X, contanto os seus
sentimentos e as suas percepções em relação a um personagem Y. Essa estrutura
transforma a leitura de uma maneira surpreendente. Isso porque, quando lemos o
capítulo de X, enxergamos Y de uma forma e podemos até não simpatizar com ele.
Mas, quando nos dedicamos à leitura do capítulo de Y – que pode ou não falar a
respeito de X -, acabamos tendo certa compaixão pelos motivos dele para tomar
determinadas atitudes. Esse tipo de construção da narrativa me fez refletir,
por inúmeras vezes, em como podemos ser imparciais por não vermos todos os
lados de um mesmo acontecimento. Friso que são todos os lados, porque não estamos diante de uma um
relacionamento bilateral, mas plurilateral. Vejam:
Pelo
nome atribuído ao último capítulo já podemos perceber que a cidade de Buenos
Aires é, também, personagem – importantíssima, por sinal – da história. Não sei
dizer ao certo se foi isso que mais me encantou no livro.
Buenos
Aires é viva. Sim, muito viva! Ela é testemunha silenciosa dos acontecimentos e
a áurea que essa característica causa na leitura transborda o coração.
Tive
a sorte de estar em Buenos Aires por duas vezes até hoje. Foram duas visitas
totalmente diferentes, com propósitos distintos: a primeira, com uma amiga, em
uma espécie de aventura pela vida argentina; a segunda, com o meu marido, em
uma viagem linda como presente de aniversário que ele me deu. Nessas duas
oportunidades, fui acolhida por Buenos Aires de formas bastante diferentes.
Acolhida pela cidade, não por
seus habitantes – não é disso que se trata. É o coração da própria cidade que
te acolhe, com os cafés, as milongas, a agitação da Avenida 9 de Julio, a paz
que encontrei em Palermo, as cores de La Boca, etc.
"De qualquer forma, ao contrário de Leonor, creio ter uma espécie de cumplicidade com os turistas. Ou minha conexão, na verdade, é com a cidade. Andando na direção contrária à deles, o que parece ser sempre o caso tenho vontade de pará-los e perguntar:- Ela não é linda?
Linda não é bem a palavra certa. Se Paris é uma mulher alta e magra, vestida nas melhores roupas, porém intragável e inatingível, Buenos Aires é uma italiana, já meio matrona e com alguns fios de cabelo grisalhos, um tanto parruda, maltratada pelo tempo e por amantes, porém ainda capaz de, sob a luz certa, seduzir um rapazinho desavisado. Ou quem sabe Buenos Aires seja Mrs. Robinson. É isso, Buenos Aires é Anne Bancroft, por volta de 1967. Acho que desvendei o mistério."– pág. 18
O
livro é, ainda, ambientado em diversos pontos da cidade, com a inclusão de
mapas ao início de cada capítulo. É como se o autor te convidasse a explorar
cada ponto sensível daquele local indicado geograficamente. É impossível não se
sentir presente em todas as cenas que são descritas. A vontade que dá é de
viajar para Buenos Aires, com ele embaixo do braço, para estar em cada um dos
lugares em que a história de Hugo e seu ciclo se passa.
Por
fim, não poderia terminar a resenha de forma melhor, a não ser com o convite de
boas-vindas existente logo em suas primeiras páginas:
Um
beijo grande,
Maria
Clara